Ela continuou caminhando. Não parou, mesmo que seus pés sangrassem profusamente. Não gritou, mesmo que sua pele tivesse sido arrancada totalmente. Não se deu ao trabalho de chorar, pois o calor ressecara suas lágrimas. O que restava agora? A solidão.
O escuro era seu maior sonho e seu pior pesadelo agora. Nada era tão belo e assustador. Nada era tão calmo e frenético. Mesmo no escuro, ela continuou caminhando. Lembrava de seus últimos momentos. A eternidade caminhando no calor insuportável foi, na verdade, poucos segundos. Seu maior desejo agora? A morte.
Mas a morte não era uma opção. A morte não era uma possibilidade, a morte não era um limite. Naquele momento, a morte era uma passagem, um segredo, uma severa punição. Punição pelos crimes hediondos e brutais que havia cometido. Qual havia sido seu crime? A dúvida.
A dúvida entre o bem e o mal, a morte e a vida, entre a insanidade e a loucura. Entre viver e morrer, entre enxergar e permanecer cega, entre ouvir o mundo ou pensar sobre a sanidade. A dúvida, a cruel dúvida, o destino que Sartre impôs aos seres vivos. Escolher, dentre um universo de possibilidades, a melhor opção.
Ela havia feito a sua pior opção, e por ela pagava.
Matara seu filho, e agora queimava no inferno.
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