segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Inquietude.

A casa estava fechada. As cortinas sobre as janelas faziam penumbra nos cômodos sujos da moradia de classe alta. Em um quarto de paredes rosa, uma cama infantil se mantia em pé, fria e sem calor humano, como se ninguém se deitasse nela desde muito tempo. Fotografias empoeiradas jaziam largadas apressadamente em cima do console da lareira de mármore. Na garagem, um carro de luxo enferrujava lentamente, totalmente sujo pela poeira e teias de aranha. Na sala, a televisão estaria ligada, não fosse pela súbita queda de energia causada pela explosão.

E no jardim, os corpos do que um dia fora uma família feliz descansavam em inquietude eterna, vítimas da ganância nuclear do ser humano.

Psicodelia apocalíptica.

As nuvens vermelhas no horizonte flamejante
O apocalipse parecia tão distante
O Profeta de voz trovejante
Anuncia o inferno vivido por Dante

Deitado na ponte entre o real e o infinito
Contemplo seus olhos, de um azul intenso e bonito
Na calada da noite eu ouço apenas um grito
Seus olhos azuis eu miseravelmente evito.

Vamos sair dessa loucura baby, o inferno nos espera
Deixar o tempo levar e nos entregar à besta-fera
Olhar para o céu nessa lúcida quimera
E lembrar-se de esquecer como tudo era

Precisamos de uma bebida, um drink, por favor
Peça ao garçom um pouco mais de amor
Derretemos nossa vida num infernal calor
A espada rompe a carne mas nós rimos da dor

Só os seus olhos podem me tirar dessa confusão
Só seu sorriso me livra desse mundo cão
Vamos contemplar o infinito e implorar em vão
Comprar bancos de ouro e nos sentar ao chão

Nossa ceia é farta, mas nossa carne está à mesa
Nosso sangue enche os cálices impostos com delicadeza
Somos a plebe, mas agimos feito a realeza
A feiúra da ferrugem corrompe nossa beleza.

Rimas pobres e alucinações reais
É tudo coisa que a sua cabeça faz
Seus almejos de fim de mundo não são nada demais
Agora durma e não se perca na sombra daquele rapaz.

Dúvida?!

Ela continuou caminhando. Não parou, mesmo que seus pés sangrassem profusamente. Não gritou, mesmo que sua pele tivesse sido arrancada totalmente. Não se deu ao trabalho de chorar, pois o calor ressecara suas lágrimas. O que restava agora? A solidão.

O escuro era seu maior sonho e seu pior pesadelo agora. Nada era tão belo e assustador. Nada era tão calmo e frenético. Mesmo no escuro, ela continuou caminhando. Lembrava de seus últimos momentos. A eternidade caminhando no calor insuportável foi, na verdade, poucos segundos. Seu maior desejo agora? A morte.

Mas a morte não era uma opção. A morte não era uma possibilidade, a morte não era um limite. Naquele momento, a morte era uma passagem, um segredo, uma severa punição. Punição pelos crimes hediondos e brutais que havia cometido. Qual havia sido seu crime? A dúvida.

A dúvida entre o bem e o mal, a morte e a vida, entre a insanidade e a loucura. Entre viver e morrer, entre enxergar e permanecer cega, entre ouvir o mundo ou pensar sobre a sanidade. A dúvida, a cruel dúvida, o destino que Sartre impôs aos seres vivos. Escolher, dentre um universo de possibilidades, a melhor opção.



Ela havia feito a sua pior opção, e por ela pagava.
Matara seu filho, e agora queimava no inferno.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O amigo de sempre \o/

Novo poema, feito à pedido da Katriny, não esperem muita sofisticação, refinamento ou humor, é uma grande droga como meus outros posts. Enfim, foda-se.

Fico em um lugar nada agradável
Ouso dizer que minha vida é um saco verdadeiro
Meus companheiros de moradia são uns porras
E além de tudo, é insuportável o mau cheiro.

Odeio quando me balançam demais
Tudo o que tenho dentro, regurgito.
Me chacoalham, me mexem, me deixam maluco
Toda essa movimentação me deixa tão aflito!

O pior é quando eu vou
Explorar lugares novos, isso ninguém gosta
Mas o meu problema é que
Aonde eu geralmente vou tem cheiro de bosta!

Posso ser grande, posso ser pequeno
Posso ser retinho ou torto
E geralmente sinto a força do azulzinho
Quando falam que tô morto.

Posso ser muito útil
Na hora de aliviar a bexiga
Pra isso conto com uma parceira
A lindíssima privada querida!

Pela minha breve descrição
Acho que já deu pra saber
Que em qualquer situação
Eu posso proporcionar lazer.

Olho pra cima, a camiseta
Olho pra baixo, o tênis
Sou seu amigo de sempre
Prazer, eu sou o pênis!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Felicidade - Aleister Crowley

De todas as graças que se aglomeram sobre o trono de Vênus a mais tímida e esquiva é aquela donzela a quem os mortais chamam Felicidade. Nada é tão avidamente perseguido, nada é tão difícil de se ganhar. Na verdade, apenas os santos e mártires, geralmente desconhecidos de seus contemporâneos, fizeram dela realmente sua, e eles alcançaram-na eliminando seu senso de Ego em si próprios com o aço incandescente da meditação, dissolvendo-se naquele oceano divino de Consciência cujo êxtase é paixão e perfeição.

Para outros, a Felicidade só vem como se fosse por acaso, quando menos esperada, talvez ela esteja ali. Procura, e não lhe encontrarás; peça, e não a receberás; batei, e não será aberta para vós. A Felicidade é sempre um acidente divino. Não é uma qualidade definida, é a flor das circunstâncias. É inútil misturar seus ingredientes, os experimentos da vida que a produziram no passado podem ser repetidos infinitamente e, com infinita habilidade e variedade - e será em vão.



Aleister Crowley, Cocaína.

Fonte

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Amor (!)

(Post feito à pedido, feliz aniversário Baroni =D)

Novamente, cá estou eu pra falar sobre algo que realmente não tenho certeza se posso ou se devo falar sobre. Não sei ao certo o que é o amor. Ao fim, ninguém sabe não? Porque se alguém soubesse, estaria ganhando dinheiro distribuindo a fórmula secreta do amor eterno, desejo de muitos candidatos a melhores cônjuges e pesadelo de muitos pombinhos que não sabem nada e sabem tudo sobre o amor.

Mas amor não se restringe apenas à relação conjugal, por mais que várias pessoas pensem isso. Sabe, amor familiar é uma coisa deveras bonita, quando não pende pro melodramatismo nem pras fortes propensões a conversão em novela mexicana, pra ser passada à tarde no SBT. Amor familiar envolve os erros que cometemos e a compreensão de nossos consanguíneos, envolve os erros que eles cometem e a nossa compreensão, envolve chegar bêbado em casa e ver a cara-de-fiofó da mãe falar com o maior cinismo: "Mãe, te amo".
Além de tudo, sempre que você se sentir deprimido, chorão, com a sensação de que ninguém mais tem saco pra aguentar o seu mimimi, se lembre que pelo menos, a sua mãe ama você e te acha a criatura mais linda do mundo.

Existe o belo e quase mentiroso amor entre amigos. Entre as garotas isso é extremamente comum, entre garotos bêbados e/ou fora de sua sã consciência também, já em outros casos... sei não.
Mas existe aquela história de que "amigos dizem eu te amo". Sei lá. Muito mais importante que falar, é demonstrar o amor falando menos e compreendendo mais, dando menos broncas e mais abraços, menos elogios e mais olhares repreensivos, ajudar o seu amigo-amado a crescer sem se tornar um ser depressivo e nem em um cara chato viciado em elogios.

Existe, obviamente, o amor entre homem e mulher. Isso é realmente uma das coisas mais confusas, diabólicas, belas e estranhas presentes na face da terra. Amor não tem segredo? Amor é fácil dese compreender, fácil de se dar, fácil de se receber?

Ame alguém que não te ama, seja amado por alguém que você não ama e tente ficar 15 anos sem brigar com o seu parceiro/a. Aí depois questione novamente.

Pra mim, antes de tudo, amor é ser. Ser o outro, ser a mão amiga que levanta, ser o ombro macio que acolhe as lágrimas, ser o olhar duro tentando construir alguém melhor.
Amar é saber a hora de se calar e simplesmente compreender, é saber a hora de repreender, é todo aquele clichê que parecefácil, mas na hora H, ninguém sabe por em prática.

Amor, antes de tudo, é ter um pedaço seu em outro alguém.
Você ama ou é amado? Você tem sempre alguém junto de você.

Não ama ou não é amado? Não sabe o que tá perdendo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Amizade (?)

Não sei se eu seria o cara mais certo pra falar sobre amizade, sobre amigos e tal. Mas sei lá, não acho que eu precise de um círculo social gigantesco pra conseguir bons amigos. É a tal da coisa. Tenho pouos, mas esses me bastam. Um amigo não precisa sero cara que te empresta grana, ou te socorre numa hora de aperto, ou um cara que olha pra você e fala: "você é meu melhor amigo".
Amizade vai além disso.

Amizade é um silêncio que fala mais do que todas as palavras do mundo.
É um abraço que transmite solidariedade, segurança e fala "preciso de você".
É um sorriso que diz "que se foda o mundo, tô contigo até no inferno"
É uma omissão que respeita a necessidade de isolamento, mas que faz o outro sentir que você tá lá.

Amizade vai além do seu colega de classe, da sua vizinha ou dos seus familiares. Você pode encontrar a sua segurança e a proteção no latido confortante de um cachorro que mesmo calado, fala tudo o que você quer ouvir e te ouve atentamente.
Você pode conversar e ser compreendido por um cacto que não se mexe nem dá nenhum sinal de vida, mas você sabe que se você precisar, tem alguem pra te ouvir.
Você pode ter um amigo que só conhece virtualmente, mas sente que pode confiar muito mais nessa pessoa do que em qualquer um que faça parte do seu suposto círculo de amizades.
Você pode muito bem encontrar a amizade em um colega de sala, em um companheiro de trabalho, em um parceiro de crimes, alguem que te conhece a fundo e te aceita como és.

Amigo é a pessoa que te conhece, já viu o teu pior, o teu melhor e sabe como você é em seus bons e maus momentos, e mesmo assim te aceita, te respeita e te ama do jeito que você é, e que está disposto a compartilhar os frutos dos bons momentos e a ultrapassar as dificuldades dos maus momentos.

Amizade é confiar, é respeitar, é amar, é querer proteger, é querer ser protegido, é saber que apesar dos pesares, apesar de tudo, mesmo que o mundo esteja caindo, que os zumbis estejam devorando pessoas, que o capeta esteja na Terra tacando fogo no rabo dos burrichos albinos da Macedônia, você vai ter alguém ali do seu lado pra dizer: "Não se preocupa. Tamo junto."

Música \o/

E aproveitando o clima melancólico, deixo aqui pra vocês uma das músicas mais lindas e tristes de toda a história.

Morte

Sabe, não é nada fácil perder alguém. Não que em minha curta existência eu tenha perdido muitas pessoas, mas as que se foram bastaram pra mostrar o quão tênue é a linha entre o sorriso e o choro, entre o calor humano e a frieza cadavérica, entre a alegria e a reflexão. O quão insignificantes, fracos e pequenos somos ante a magnitude do mistério que envolve a morte.
Independente de ponto de vista espiritual, ou de religiões, ou de crenças, o que no fim é tudo a mesma coisa, a morte é o mistério que paira sobre a cabeça das pessoas. Desde o nascimento se espera a morte. Isso só prova que aqueles que se dizem melhores que os outros, que se acham no direito de ser mais que alguem, acham que podem tudo na verdade não são nada. São apenas seres vivos como eu, você, o cão que late aí na esquina e o microorganismo que habita a sua pele. Todos iremos morrer.
Aí você deve estar pensando "Ah vá, é mesmo? Conta uma novidade aí." E eu te digo: não existe mistério na morte. Não existe novidade, não tem segredo. A vida é uma droga de um ciclo vicioso. Você nasce, vive, cresce, ser reproduz [se quiser ou se puder] e ao fim, morre.
Realmente, a morte não merece todo esse temor, Caralho, se você sabe que vai morrer, pra que ficar se lamuriando? Aproveite os dias que te restam da melhor maneira possível, viva bem à sua maneira, não seja demasiado altruísta, só faça algo por que você acha que faria algo pra você. Abraçe quem você ama. Esmague uma barata. Faça uma casinha de LEGO. Faça o que você bem entender, tendo a ciência de que a partir do seu nascimento, asua vida éuma contagem regressiva pro seu fim.
Quer fazer homenagens? Dar flores? Chorar? Sorrir? Lembrar dos bons momentos? Faça isso enquanto a pessoa tá viva. Enquanto ela pode sentir o calor do teu abraço, pode sorrir ao ver o ramo de flores colhidos apressadamente, pode relembraros bons e os maus momentos contigo, pode chorar com você, enqnato essa pessoa SABE que você a ama e você demonstra isso pra ela.

Agora, depois de morto, tanto faz você se debulhar em lágrimas em cima do caixão do seu querido ou mijar nele. Tá morto mesmo. Não faz diferença. Aquilo que você abraça, beija e se lamenta por é apenas um corpo inerte, uma massa de carne em processo de decomposição.
Abraçe, beije, ame, sinta, seja enquanto és vivo.


Uma coisa é homenagear o morto sabendo que fez o mesmo em vida.
Outra coisa muito diferente é se debulhar em lágrimas, comprar uma enorme coroa de flores sabendo que você nunca sequer abraçou o falecido.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Jabá from Hell \o/

Poema feito pelo meu amigo Rafa John, com a temática usual de Lobos versus vampiros.

Enjoy it (:

Na noite escura e fria,
Um vulto por ela percorria,
Uma pequena assombração,
Apenas andava até então.

Sua pele branca e dentes afiados,
Buscando mais comida, sangue afinal,
Conde Dracula estava na cidade,
Correndo contra o vento,
A encantar as moças então,
Depois de todos os beijos,
A canção horripilante começou.

O luar triste e avermelhado ficou,
De tanto sangue que espirrou,
Então, seu inimigo chegou,
para assombrar todo o povoado,
Os lobisomens estavam atacando,
Agora sim era sangue para todo lado.

Então o morcego e lobo,
Logo cara a cara ficaram,
Em uma batalha mortal,
O lobo acabou por ganhar,
E vitorioso então, a carne começou a dilacerar,
Era uma confusão avermelhada,
Sangue voando e carne espirrando,
Pintando de vermelho tudo que é canto.

Depois da lua chorar avermelhado,
O lobo retirou-se vitorioso,
Então o sol começou a raiar,
E os restos do conde dracula,
Tão forte, começaram a carbonizar,
E o lobo, posseso pelo desejo,
Voltou para sua forma original,
A forma de um humano ingenuo,
Que acabou com conde dracula afinal.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Lobo: A outra face.

Então, esse é um poema feito pela minha fofuxinha Paola Menezes, que escreveu o que sentiu a amada do Lobo ao ser morta por ele, oferecendo-se em sacrifício para salvar seu amado.



sinto sua respiração intensa
suas unhas rasgando meu vestido
aos poucos, crava suas presas em meu pescoço
ainda não estou morta.

Beijo teu peito
com o pouco sopro vital que me resta
enquanto arranca meu seio com verocidade
olho ao lado minhas vestes machandas com meu sangue
já não sinto dores.

Vejo luzes,aos poucos,
minha alma desgruda de meu corpo
tão pálida quanto minha pele
sinto a face dilacerada

Ofereci meu corpo
afin de saciar tua sede e instintos
e não vê-lo agonizar
com medo de me ferir

Me entrego por inteira
a está besta demôniaca
que um dia foi
meu bem amado

Paola Menezes