terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O silêncio que precede o final

A porta abriu. Uma bela moça entrou. O rapaz disse:

- Sente-se aqui ao meu lado.

- Tudo bem.

- Eu ainda te amo sabia?

- Ainda? Então você um dia deixou de me amar? Seu pilantrinha!

Os dois riram. O jovem casal, tinham no máximo 17 anos cada um, estava sentado confortavelmente em um sofá posto às pressas no terraço do edifício mais alto de Curitiba. O céu estava de uma cor vermelho-sangue. Um espetáculo raro.

- Que horas vai ser?

- A televisão falou que seria lá pelas seis e meia da manhã.

Ela olhou no relógio de pulso dele.

- É quase cinco e vinte amor!

- Numa hora dessas, o que mais importa o tempo? Só me interessa ficar com você.

E eles se abraçaram. E assim ficaram, observando o comportamento anômalo do sol, o desespero das aves, ouvindo os gritos de desespero das pessoas lá embaixo. Era até engraçado, eles tão sossegados observando tudo enquanto os outros se desesperavam.

- Sabe, poderíamos ter vivido tantas coisas juntos... casar, ter filhos...

- Fernanda, você sabe que eu te amo demais, e nós teríamos feito tudo isso não fosse pelo...

E não conseguiu terminar a frase.

Eles nem se deram conta, mas faltavam quarenta segundos para as seis e meia. O sol tingia o horizonte de sangue, e as nuvens pareciam fantasmas bailando pra lá e pra cá.

- Amor, faltam dez segundos! E agora? O que fazemos?

- Aprecie o silêncio.

Eles deram as mãos e se beijaram.

E num instante, como que por mágica, tudo ficou silencioso. Um momento de respeito, um minuto de silêncio, uma eternidade de angústia.

E o meteoro X-297.8 – Alfa atingiu o Planeta Terra, dizimando todo e qualquer vestígio de vida.

Aquele era o silêncio que precedia o final.



Dedicado à Lajila e Kevin, os psicopatas mais apaixonados do mundo.

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