sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Poema - Carta de um homem morto

Pra variar, mais um poeminha, gostaria de mandar um salve pro Marcos Russo, que me fez atualizar essa porcaria aqui.

Carta de um homem morto.

Deitado no asfalto sórdido
Vapor frio me sobe à cabeça, rouquidão
Gemidos e grunhidos e corpos sangrentos
Choro lágrimas metálicas jorradas ao chão

Mil dentes, mil preces
O que quero agora é a morte
Meu carrasco impede a visão
Meu desejo luminoso de escuridão é forte

Sim, não, talvez pra sempre
Sete símbolos reviveram os que descansavam
Enquanto corria minha pele ensandecida
Reclamava a dor de meus olhos que já não mais estavam

Dois mil anos de pura inocência
Seiscentos e sessenta e seis é o seu nome
A besta acorda de sua tumba na noite ensolarada
Ela tem frio, ela tem poder, ela tem fome

Deus, Jeová, Buda, quem quer que seja
Oro pela sua piedade
Tudo o que fiz foi por um motivo
Se não queriam isso, não me dessem a insanidade

Faço do ditado popular meu lema
Beleza está nos olhos de quem vê
Bonitos eram quando só apareciam
Em clipes de popstars ou em filmes trash na tevê.

Grunhidos e gritos e clamor e choro
Minha farda está suja com meu sangue infectado
Poderia perder a voz de tanto ensandecidamente berrar
Mas nessa alegria pré morte prefiro manter-me calado.

O pio de uma corujinha anuncia
Que lâminas e balas não foram o suficiente
Que o diga minha pele rasgada
Minha dor é doce, e meu sorriso, demente.

Unhas e presas e olhos esbugalhados
Dezenas cercam meu corpo antes são
Olho para minhas dóceis criaturinhas estressadas
E vejo em seu olhar um quê de satisfação

Vingança para elas não deveria ser possível
Mas o que posso fazer, se tudo tende a evoluir?
Pode ser loucura ou alegria exacerbada
Mas por um momento vi a maior delas sorrir.

Fulgor prateado em um coldre outrora alheio
Fico feliz por não deixar nenhum filho
Aponto minha salvação para minha têmpora
E sem hesitar, puxo o gatilho.

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