quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Post Mortem: Carta para minha amada.

Não se animem tilangada, eu não vou me matar. Quem vos fala na carta é o Eu Lírico. quem?



Se eu tivesse a oportunidade de te falar, eu diria apenas três palavras. Diria “eu te amo”. Três pequenas palavras, que valeriam por tudo o que passamos juntos. Alguns minutos escondidos em algum lugar qualquer, mas que pareciam dias ensolarados, de felicidade e contentamento. Beijos roubados, abraços fortes, compreensão. Eu falei, quando nos conhecemos, eu sei que falei que cada segundo da minha vida teria um único objetivo, todos os momentos do meu dia, todas as minhas ações, tudo, tudo seria por você. Seria pra te ver feliz, pra ver um sorriso brilhante, ver seus olhos brilharem de contentamento era a coisa mais linda que eu podia ver, que eu desejava mais que tudo. Eu sofria, dia após dia, trabalhava, me humilhava, só pra juntar dinheiro pra que pudéssemos fugir desse caos, pra que tivéssemos uma casinha simples, um cachorro, uma horta e um quintal pra que criássemos nossos filhos. Ah, amor, eram tantos planos, eram tantos almejos, tanta vontade de você, tanta necessidade de você...

Eu queria que você estivesse aqui comigo agora, que pudesse compartilhar minhas vitórias, me consolar pelas derrotas, lutar comigo por um amanhã mais feliz. Acima de tudo, queria seu colo quentinho, seu abraço confortável, sua voz doce penetrando em meus ouvidos e dizendo “Tá tudo bem, meu anjo. Eu te amo.” Queria ter seus lábios juntos aos meus, suas mãos envolvendo minhas mãos, queria seu carinho...

Seríamos tão felizes... Você iria terminar a sua faculdade, eu seria promovido e iríamos morar em uma cidadezinha pacata, e lá os nossos vizinhos olhariam pra nós com admiração e ternura e comentariam “Por Deus, que casal mais lindo!”

Mas todos os nossos sonhos acabaram quando há um ano você foi morta por pessoas sem coração.

E nessa carta jogo ao vento todas as minhas angústias, todos os meus tênues sopros de ternura, mato o homem que antes havia em mim, para dar lugar a um novo ser. Um monstro.

E assim, mesmo sabendo que vou para o inferno, se é que ele existe, eu acabo com minha vida por aqui. Não faz sentido viver sem você, meu amor. E se Deus achar ruim, que pensasse nisso antes de desperdiçar carne e sangue em criaturas asquerosas como as que te fizeram isso.

Se meu destino for o Inferno... o Demônio que se prepare. Um homem morto acaba de morrer.

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